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Afinal, Deus ama ou odeia o pecador?


Por Gutierres Fernandes Siqueira

Se você é arminiano responderá que Deus ama o pecador, mas aborrece o pecado. Se você um calvinista - daquele tipo militante e chato - certamente responderá com baba na boca que Deus odeia os pecadores, assim como o próprio pecado. Bom, afinal de contas, Deus ama ou odeia os pecadores? Devo responder essa questão biblicamente como arminiano ou calvinista? A resposta é: as duas coisas, pois Deus tanto ama como odeia o pecador.

Reconheço que é dura a tarefa de explicar algo tão complexo em um post breve.  Ainda posso, com toda razão, ser acusado de escrever um artigo superficial e simplista. Bom, sei das minhas limitações, mas ainda assim grave essa frase com a chave do texto: Deus ama e odeia o pecador.   

A primeira objeção a minha argumentação é de natureza lógica. Ora, se eu amo não odeio, mas se odeio eu não amo, assim como praia é praia e campo é campo. Agora, quem disse que o pensamento bíblico é restrito à razão? Adoramos um Deus que é três em um; celebramos o Cristo que é plenamente homem e plenamente Deus; louvamos o Deus infinito que encarnou como bebê; sabemos que Deus é completamente Soberano, mas ainda assim concedeu liberdade ao homem. É possível explicar qualquer uma dessas verdades cristãs pela lógica elementar? É claro que não. Da mesma forma, é possível afirmar que o Senhor ama e odeia um pecador.

O teólogo Luiz Sayão argumenta:

Uma das razões pelas quais criamos uma teologia limitada assim é a nossa herança racionalista. Os antigos hebreus e cristãos sabiam que a realidade era muito mais complexa do que a nossa razão. Além disso, entendiam que certas dimensões da fé aparentemente distintas não eram necessariamente contraditórias. O problema é que quando nossa teologia se “helenizou” exageradamente, adotamos uma logicamente simplista que nos trouxe diversos problemas. [1]

Deus é um Ser pleno. Ele é plenamente amor, mas plenamente justo. Ora, o Seu amor não é maior que a Sua justiça, assim como a Sua justiça não é maior que o Seu amor. A cruz, por exemplo, é um gesto de justiça ou de amor? Como diz poeticamente o hino Grata Nova:Mostra ao triste pecador, que na cruz estão unidos a justiça e o amor” [2]. Por que uma virtude não se sobressai sobre a outra? Ora, pelo simples fato que em Deus nada é incompleto. É por isso que não é possível acreditar em um céu sem inferno. No juízo sem a misericórdia. Na salvação sem a perdição. “Portanto, considere a bondade e a severidade de Deus” [Rm 11.22].

Por que Deus odeia o pecador? O pecado não é um estrangeiro na vida do homem. Somos pecadores por natureza, ou seja, temos integralmente o pecado em nossas vidas. É o que Paulo chama de “carne” [ex: Rm 8.8]. É uma natureza inseparável mesmo no homem regenerado. Logo, Deus que é santíssimo não pode aceitar o nosso pecado, pois a transgressão é parte nossa. Poderia citar inúmeros textos, mas vamos ficar com Malaquias 2.16: “‘Eu odeio o divórcio’, diz o Senhor, o Deus de Israel, e ‘o homem que se cobre de violência como se cobre de roupas’, diz o Senhor dos Exércitos. Por isso tenham bom senso; não sejam infiéis [NVI]”. Veja que Deus odeia o pecado (“divórcio”, nesse caso) e o pecador (“o homem que se cobre de violência”).

Por que, também, Deus ama o pecador? Ora, esse é o grande tema das Escrituras. Quem nunca leu João 3.16? Sim, maravilhosamente Deus nos ama ainda como pecadores. É uma pena que calvinistas insistam tanto que “mundo” desse texto seja “eleitos”. Mesmo o teólogo reformado D. A. Carson, grande exegeta, discorda desse posição:

Eu sei que alguns calvinistas tentam tomar o grego kosmos (“mundo”) aqui para se referir aos que eles chama de eleitos. Mas isto realmente não servirá. Todas as evidencias do uso da palavra do Evangelho de João são contrárias a esta sugestão. Para dizer a verdade, mundo em João não se refere tanto a grandeza como a maldade. No vocabulário de João, mundo é primeiramente a ordem moral em rebelião intencional e culpável contra Deus. Em João 3.16 o amor de Deus ao enviar o Senhor Jesus deve ser admirado, não porque seja estendido a algo tão grande quanto o mundo, mas a algo tão mau; não a tantas pessoas, mas a pessoas tão impiedosas. [...] Neste eixo, o amor de Deus pelo mundo não pode ser reduzido ao seu amor pelos chamados eleitos. [3]

Sim, é Deus quem ama e odeia ao mesmo tempo. Como entender? Ora, difícil, pois é o Senhor da misericórdia e da ira, do amor e da justiça, da paciência e do juízo. O mesmo Jesus que proclamou “bem-aventurados os pacificadores, pois serão chamados filhos de Deus” [Mt 5.9] foi o mesmo Jesus que disse: “Vocês pensam que vim trazer paz à terra? Não, eu lhes digo. Pelo contrário, vim trazer divisão!” [Lucas 12.51]. Esse é o nosso Deus. Um Deus não irracional, mas além da razão. Louvador seja Deus! Glorificado seja o SENHOR!!

Notas e Referências Bibliográficas:

[1] SAYÃO, Luiz Alberto. Agora Sim! Teologia na Prático do Começo ao Fim. 1 ed. São Paulo: Voxlitteris, 2012. p 16.

[2] Música de número 18 da Harpa Cristã (CPAD).

[3] CARSON, Donald. Arthur. A Difícil Doutrina do Amor de Deus. 1 ed. Rio de Janeiro: Casa Publicadora das Assembleias de Deus, 2007. p 17, 18. Leia também: CARSON, D. A. O Comentário de João. 1 ed. São Paulo: Shedd Publicações, 2007. pp 205-207. O famoso puritano J. C. Ryle, também, defendia a interpretação de mundo como “humanidade” e não como “eleitos”. Veja em: RYLE, J. C. Meditações no Evangelho de João. 1 ed. São José dos Campos: Editora Fiel, 2000. p 35.

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