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A integridade exegética de C.H Spurgeon ao interpretar 1 Timóteo 2.3,4



“Meu amor pela coerência com meus conceitos doutrinários não é suficientemente grande para me permitir alterar conscientemente um único texto das Escrituras. Tenho grande respeito pela ortodoxia, porém a minha reverência pela inspiração é muito maior. Prefiro cem vezes ou mais parecer incoerente comigo mesmo a ser incoerente com a Palavra de Deus”.[1] (C. H. Spurgeon)

Na tentativa de defender que o amor de Deus por todos os homens, na realidade é amor apenas pelos eleitos incondicionalmente, alguns calvinistas acabam distorcendo ou forçando o sentido das Escrituras. Observemos a integridade exegética do grande pregador calvinista C.H. Spurgeon ao tratar de 1 Timóteo 2.3, 4:

“E então? Tentaremos substituir por outro o sentido que o texto apresenta com tanta clareza? Nem pensar! Vocês, muitos de vocês, conhecem bem o método geral pelo qual os nossos velhos amigos calvinistas tratam este texto. “Todos os homens”, dizem eles – “isto é, alguns homens”; como se o Espírito Santo não fosse capaz de dizer “alguns homens”, se quisesse dizer alguns homens. “Todos os homens”, dizem eles; “isto é, alguns de todos os tipos de homens”; como se o Senhor não pudesse dizer “Todos os tipos de homens”, se Ele quisesse dizer isso. O Espírito Santo, por meio do apóstolo, escreveu “todos os homens” e, inquestionavelmente, Ele que dizer todos os homens.” [2]

Ao comentar em como o texto de 1 Timóteo 2.3,4 se concilia com a crença calvinista na eleição incondicional, que afirma que Deus determinou que apenas alguns homens serão salvos, em sua sinceridade Spurgeon afirma:

“Ele tem uma bondade infinita que, não obstante, não é levada a efeito em todos os pontos por Sua onipotência infinita; e se alguém me perguntar por que Ele não o faz, não saberei responder. [...] dou graças a Deus por mil e uma coisas que não posso entender. [...] Aí está o texto, e eu acredito que é desejo do meu Pai que “todos os homens sejam salvos, e venham ao conhecimento da verdade”. Mas sei também que Ele não quer isso, de modo que não salvará nenhum deles, a não ser que eles creiam em Seu Filho amado; pois Ele nos disse repetidamente que não o fará. [...] Se eu continuar contando a vocês o que eu não sei, e tudo o que de fato sei, garanto que as coisas que não sei são muito mais que as que sei, na proporção de cem para uma.”[3]

Como a minha ênfase aqui é no entendimento do sentido de “todos os homens” em 1 Timóteo 2.3,4 conforme Spurgeon, concluo dizendo que o príncipe dos pregadores segue a interpretação arminiana do referido texto, ou seja, de que o texto afirma categoricamente que Deus deseja a salvação de “todos os homens”.

E por qual razão ele não os salva? Entendo que é pelo fato de Deus está comprometido com algo mais elevado, que é a liberdade humana de poder aceitá-lo, amá-lo e de com ele se relacionar. É claro que o exercício de tal liberdade depende da ação da graça preveniente de Deus, que capacita a vontade humana libertando-a do poder do pecado, sem, contudo mudar arbitrariamente esta vontade (trata-se de mudança de condição da vontade, em vez de mudança de direção da vontade), nem arrastando-a irresistivelmente para si. É dessa forma que a soberania de Deus na aplicação da salvação se concilia com o exercício da liberdade humana na aceitação da salvação (At 2.37-41).

E como isso tudo é possível? Sigo Spurgeon ao afirmar “não sei”, pois o que sei é que para Deus nada é impossível (Lc 1.37), e que tal entendimento é coerente com as Sagradas Escrituras!

Fonte:Altair Germano

[1] MURRAY, Iain H. Spurgeon versus Hipercalvinismo: a batalha pela pregação do Evangelho. São Paulo: PES, 2006, p. 172.
[2] Ibid., p. 171, 172.
[3] Ibid., p. 173-176.

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