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A confissão de Fé da Guanabara

A CONFISSÃO DE FÉ DE GUANABARA


A Confissão de Fé da Guanabara, a mais antiga das Américas

Jean Crespin relata que “Villegaignon obteve dois belos e grandes navios e dez mil francos para os gastos com os homens que lhe seria preciso levar comsigo, assim como grande quantidade de artilharia, pólvora, balas e armas para a construcção e defesa de um forte. Isto alcançado, entendeu-se ele com os capitães e pilotos para guiarem as caravellas e fazerem, em Brest, o carregamento de madeiras e outros accessorios.

Claude Haton, em suas Memorias (edição Bourquelot, pag. 17) diz : “Com permissão do rei, Villegaignon visitou as prisões de Paris para ver os prisioneiros que lhe podiam ser úteis”. Villegaignon deixou o Havre aos 15 de julho de 1555, entrando na Guanabara no dia 10 de novembro de 1555.

Eis os nomes dos huguenotes que acompanharam du Pont, Richier e Chartier : Pierre Bourdon, Matthieu Verneuil, Jean du Bourdel, André la Fon, Nicolas Denis, Jean Gardien, Martin David, Nicolas Raviquet, Nicolas Carmeau, Jacques Rousseau e Jean de Lery. Ao todo eram quatorze e, para a realização de tal viagem, partiram de Genebra aos 10 de setembro de 1556. Pierre Richier, doutor em teologia e ex-frade carmelita, convertera-se ao Protestantismo e, após haver feito seus estudos em Genebra, dirigiu-se ao Brasil em 1556, de onde voltou no anno seguinte e escreveu em 1562, sobre as mentiras de Villegaignon. Guillaume Chartier, natural de Vitré – Bretanha, estudou em Genebra e aceitou com muito ardor o cargo de missionário da Reforma da America.

O grupo chegou no dia 10 de março de 1557 chegou a Guanabara. Reunidos todos em uma pequena sala no centro da ilha, foi realizado um culto de ação de graças, o primeiro culto protestante ocorrido no Novo Mundo. O ministro Richier orou invocando a Deus. Em seguida foi cantado em uníssono, segundo o costume de Genebra, o Salmo 5: “Dá ouvidos, Senhor, às minhas palavras” (“Aux paroles que je veux dire, plaise-toi l’aureille prester”). Em seguida, o pastor Richier pregou um sermão com base no Salmo 27:4: “Uma coisa peço ao Senhor e a buscarei: que eu possa morar na casa do Senhor todos os dias da minha vida, para contemplar a beleza do Senhor e meditar no seu templo”. Após o culto, os huguenotes tiveram a sua primeira refeição brasileira: farinha de mandioca, peixe moqueado e raízes assadas no borralho. Dormiram em redes, à maneira indígena.

A Santa Ceia foi celebrada pela primeira vez, em terras da América, no forte de Coligny, em um domingo, 21 de março de 1557. Villegaignon foi o primeiro a apresentar-se à Mesa do Senhor e, de joelhos, recebeu o pão e o vinho das mãos do ministro, fazendo, então, duas preces em alta voz.

 

Mais tarde, Richier passou a criticar o uso de sal, oleo e saliva no sacramento do batismo. Villegaignon não aceitou as críticas frequentes do pregador. Sobre esse desentendimento, diz-se que em 1557 o católico Villegaignon sustentava que a eucaristia não era antropofagia, que ao comungar não se estava comendo o corpo de Cristo e sim, realizando o mistério da eucaristia. Enquanto os protestantes, discípulos de Calvino, acreditavam que a hóstia e o vinho eram símbolos do corpo do Senhor. A polêmica foi tão séria que em 4 de junho de 1557, Chartier retornou para a França pedir o parecer de eclesiásticos sobre o tema, embora não haja registro de que alguma resposta tenha sido dada.

 

O certo é que a tensão entre o almirante e os huguenotes tornou-se tão grande, que em 4 de janeiro de 1558 Villegaignon despachou os calvinistas para Paris, e estes, lá chegando, passaram a difundir a versão de que o comandante vivia entre trair o protestantismo e escravizar seus compatriotas. . . “Ele é o Caim da América. .” , escrevera Jean de Lèry, principal rival de Villegaignon nesta polêmica.

 

Du Pont, Richier e os seus companheiros estavam já no continente, à meia legua de distancia do forte de Coligny, numa aldeia construida mezes antes por alguns pobres Francezes que Villegaignon expulsára da ilha como bocas inuteis e entre os quaes se contava o proprio Cointac, ex-comandante do forte.

Pouco tempo, chegára do Havre um navio francês, que não pertencia a Villegaignon nem aos seus aliados. O commandante revelou-se muito favoravel a du Pont e Richier e entre elles ficou ajustado o preço de cem escudos pela passagem de dezeseis pessoas e por cuja importancia se obrigava du Pont. Devido à problemas no navio, 5 missionários retornaram para o Forte Coligny: Pierre Bourdon, Jean du Bourdel, Matthieu Verneuil, André la Fon e Jacques le Balleur.

O documento foi redigido em cerca de doze horas numa prisão na ilha de Serigipe (atual Ilha de Villegagnon), por Jean du Bourdel com o auxílio de Matthieu Verneuil, Pierre Bourdon e André la Fon. Contém 17 artigos, refletindo a doutrina calvinista. Com base nesse texto, Villegaignon os acusou de heresia e os condenou à morte. No dia 9 de fevereiro de 1558, Bourdel, Verneil e Bourdon foram estrangulados e lançados nas águas da baía da Guanabara. André Lafon foi poupado por ser o único alfaiate da colônia. Não está claro se Jacques le Balleur teve envolvimento na redação da Confissão, já que a data exata de sua fuga não é conhecida.

A Confissão de Fé da Guanabara foi redigida depois de 4 de Janeiro e antes de 9 de Fevereiro; a data exata costuma ser referida como sendo 17 de Janeiro de 1558.

A Introdução faz uma bela aplicação do texto de 1 Pedro 3.15.

A Confissão de Fé em si é composta de 17 parágrafos de diferentes tamanhos que tratam de cinco ou seis questões principais:

1. Parágrafos 1-4: a doutrina da Trindade, e em especial, da pessoa de Cristo, com as suas naturezas divina e humana.

2. Parágrafos 5-9: a doutrina dos sacramentos; a Ceia é tratada em quatro artigos e o batismo em um.

3. Parágrafo 10: a questão do livre arbítrio.

4. Parágrafos 11-12: a autoridade dos ministros para perdoar pecados e impor as mãos.

5. Parágrafos 13-15: divórcio, casamento dos bispos, voto de castidade.

6. Parágrafos 16-17: intercessão dos santos e orações pelos mortos.

Em 1559, Villegaignon decidiu retornar à França em busca de apoio, deixando seu sobrinho, Bois Le Comte, como comandante.




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